quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Último dia de aula. Difícil conceituar isso? Talvez. Para alguns sim, outros não. Enquanto eu elaborava respostas para as onze questões da prova de português ouvia o suave canto dos pássaros, os gritos finos das crianças e o barulho irritante do ventilador. O professor rondava ao redor das três esmagadas fileiras formadas pelos alunos. Observava folha por folha com seus olhos penetrantes que pareciam duas jabuticabas. Exigia que não falássemos nada e quando alguém tivera alguma dúvida somente deveria levantar o braço. Quando finalmente virava de costas alunos tentavam colar pedindo á outros as respostas das questões de transitividade, complementos nominais e regência verbal. Sinceramente, essas questões de regência não têm muita lógica. Segundo comentários ocultos do professor, até grandes autores tem perguntas sem respostas sobre o tema. Eu já havia terminado a prova. Rápido demais – como sempre. Assim precisava me distrair com alguma coisa para não me afogar em pensamentos inúteis.

Depois de cinco minutos olhando para a folha branca com questões que pareciam tão simples, olho para meus amigos e percebo a impaciência invadindo suas mentes. Uns batendo o pé no chão e outros fazendo tic-tac com a caneta. Seria tão difícil assim? O professor estava imóvel num canto da sala parecendo um servente da polícia militar observando suspeitos de algum crime. A impaciência tentava me dominar. Ignorei-a e continuei a prestar atenção na sala de aula. Parecia que a rotação terrestre não queria cooperar comigo. Percebi que o estranho professor, quem escreveu um livro, estava de calça jeans. Nunca o vi usar jeans. Ele não tinha muita bunda, então as calças de malha estilo social fazia seu corpo ficar quadrado. Sua pele era vermelha e os dedos arroxeados. Usava aqueles óculos simples, sem cor, e um relógio de pulso prata, o que não alterava seu terrível visual. Com o passar dos intermináveis minutos os alunos iam acabando o teste e a conversa ia aumentando. Já não conseguia ouvir os pássaros. Assim a impaciência poderia adentrar em meus nervos.

Tentava prestar atenção na conversa paralela dos nerds da minha fileira que conversavam sobre o campeonato de tênis do colégio. Já atrás de minha carteira havia uma garota observando a terrível folha com milhares de palavras onde eu tentava escrever algo interessante para me distrair. O professor fitava o relógio também impaciente com uma das mãos no bolso. O tédio se tornou o oxigênio na sala de aula. Percebo um pequeno coração desenhado ao canto do quadro esverdeado. Meu coração se apertou e a dor substituiu a impaciência. Aqueles segundos me atormentavam como se pudesse ouvir as batidas do relógio. O meu relógio não era comum, o apelidei como relógio da morte. Cada instante que passava poderia ser o último. Não havia sentido, nem emoção, os sentimentos se perdiam com as mágoas e o arrependimento. Os erros do passado alteravam tanto o futuro de forma que não conseguia mais perceber que o presente já não importava, assim também o que importaria o amanhã?

Logo minha mesa estava coberta de pequenos corações, os quais não percebi que havia desenhado. Neles havia uma rachadura. Era comum desenhá-los partidos ao meio, machucados ou destruídos. Toda vez que ficava sozinha a dor voltava, então minha única salvação era o colégio. Último dia de aula. Terei que agüentar longos meses de férias. Provavelmente passarei metade do dia dormindo e gastarei as horas vagas para desidratar chorando por uma mínima formiga que não poderia seguir seu percurso até o ninho por não ter conseguido um grão de comida. Ela seria somente mais uma entre as demais. Como eu. Somente mais uma que consegue destruir a própria vida, sem vontade de querer tentar novamente. Talvez por que não houvesse outras chances, e o fim realmente tivesse chegado.

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My name is Camila Rafaela Felippi, I'm 18 years old and I live in Ascurra, SC, Brazil. I have attended the Bilingual Executive Secretary course at FURB since February and I don't have a job. I like to speak English and Spanish, I love my boyfriend Evandro, I enjoy Anahi's songs, I love my pets and to read books :D Meu nome é Camila Rafaela Felippi, tenho 18 anos e vivo em Ascurra, SC, Brasil. Estudo Secretariado Executivo Bilíngue na FURB e não trabalho. Gosto de falar inglês e espanhol, amo meu namorado Evandro, adoro as músicas da Anahi, amo meus animais de estimação e ler livros :D

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