Eu era daqueles tipos de garotas sentimentais, que chorava por qualquer mínimo detalhe. Sonhava com pessoas gentis, educadas, que respeitassem umas as outras. Não me importava com carros de marca, palacetes, coroas, vestidos de gala. Não me importava se existissem criaturas estranhas, opções sexuais diferentes, gostos completamente fora do normal. O que realmente importava para mim era o respeito que cada um deveria ter como função principal. Para quê partir para as agressões, para a morte? Seja de humanos, seja de uma simples lagartixa que era na parede da sua casa sem pretender roubar alguma coisa. Não vejo como alguns conseguem fazer mal ao outro sem motivo algum, e se tivesse não deveria ser resolvido à base da pancada.
E no mundo de hoje, você não pode sair de casa tendo completa certeza que voltará vivo. Esta é a realidade que quer para seus filhos e netos? FAÇA A SUA PARTE, plante amor e colherá paz.
E era somente mais uma dor, eu deveria controlá-la. Eu deveria respirar, aceitar tudo, abaixar a cabeça e chorar. Mas não. Sabia que não era certo. Por menos que acreditasse que conseguiria dar a volta por cima. Sabia que deveria lutar, que não deveria desistir. Mas a dor me dominou, o medo, as lágrimas e os pedaços do coração se espalharam por meu sangue como caquinhos de vidros rasgando as veias, cortando ainda mais a passagem do sangue – o desespero o havia parado a tempo. O meu autocontrole havia se perdido. E eu sozinha, sem ter ninguém comigo, ninguém ao meu lado, sem ter para onde correr, onde se esconder. Estava perdida. E dessa vez pude ter certeza que não é necessário ter um mundo colorido, crianças felizes brincando ao seu redor. Era necessário seu interior estar colorido. O que não estava no momento para mim. Logo os olhares me perseguiam, alguns perguntando o que acontecera. Concentrei na calma para permanecer de pé, caminhando até encontrar alguém que pudesse me abraçar e dizer que tudo daria certo.
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Último dia de aula. Difícil conceituar isso? Talvez. Para alguns sim, outros não. Enquanto eu elaborava respostas para as onze questões da prova de português ouvia o suave canto dos pássaros, os gritos finos das crianças e o barulho irritante do ventilador. O professor rondava ao redor das três esmagadas fileiras formadas pelos alunos. Observava folha por folha com seus olhos penetrantes que pareciam duas jabuticabas. Exigia que não falássemos nada e quando alguém tivera alguma dúvida somente deveria levantar o braço. Quando finalmente virava de costas alunos tentavam colar pedindo á outros as respostas das questões de transitividade, complementos nominais e regência verbal. Sinceramente, essas questões de regência não têm muita lógica. Segundo comentários ocultos do professor, até grandes autores tem perguntas sem respostas sobre o tema. Eu já havia terminado a prova. Rápido demais – como sempre. Assim precisava me distrair com alguma coisa para não me afogar em pensamentos inúteis.
Depois de cinco minutos olhando para a folha branca com questões que pareciam tão simples, olho para meus amigos e percebo a impaciência invadindo suas mentes. Uns batendo o pé no chão e outros fazendo tic-tac com a caneta. Seria tão difícil assim? O professor estava imóvel num canto da sala parecendo um servente da polícia militar observando suspeitos de algum crime. A impaciência tentava me dominar. Ignorei-a e continuei a prestar atenção na sala de aula. Parecia que a rotação terrestre não queria cooperar comigo. Percebi que o estranho professor, quem escreveu um livro, estava de calça jeans. Nunca o vi usar jeans. Ele não tinha muita bunda, então as calças de malha estilo social fazia seu corpo ficar quadrado. Sua pele era vermelha e os dedos arroxeados. Usava aqueles óculos simples, sem cor, e um relógio de pulso prata, o que não alterava seu terrível visual. Com o passar dos intermináveis minutos os alunos iam acabando o teste e a conversa ia aumentando. Já não conseguia ouvir os pássaros. Assim a impaciência poderia adentrar em meus nervos.
Tentava prestar atenção na conversa paralela dos nerds da minha fileira que conversavam sobre o campeonato de tênis do colégio. Já atrás de minha carteira havia uma garota observando a terrível folha com milhares de palavras onde eu tentava escrever algo interessante para me distrair. O professor fitava o relógio também impaciente com uma das mãos no bolso. O tédio se tornou o oxigênio na sala de aula. Percebo um pequeno coração desenhado ao canto do quadro esverdeado. Meu coração se apertou e a dor substituiu a impaciência. Aqueles segundos me atormentavam como se pudesse ouvir as batidas do relógio. O meu relógio não era comum, o apelidei como relógio da morte. Cada instante que passava poderia ser o último. Não havia sentido, nem emoção, os sentimentos se perdiam com as mágoas e o arrependimento. Os erros do passado alteravam tanto o futuro de forma que não conseguia mais perceber que o presente já não importava, assim também o que importaria o amanhã?
Logo minha mesa estava coberta de pequenos corações, os quais não percebi que havia desenhado. Neles havia uma rachadura. Era comum desenhá-los partidos ao meio, machucados ou destruídos. Toda vez que ficava sozinha a dor voltava, então minha única salvação era o colégio. Último dia de aula. Terei que agüentar longos meses de férias. Provavelmente passarei metade do dia dormindo e gastarei as horas vagas para desidratar chorando por uma mínima formiga que não poderia seguir seu percurso até o ninho por não ter conseguido um grão de comida. Ela seria somente mais uma entre as demais. Como eu. Somente mais uma que consegue destruir a própria vida, sem vontade de querer tentar novamente. Talvez por que não houvesse outras chances, e o fim realmente tivesse chegado.
Quem sou eu
- Camila Rafaela Felippi
- My name is Camila Rafaela Felippi, I'm 18 years old and I live in Ascurra, SC, Brazil. I have attended the Bilingual Executive Secretary course at FURB since February and I don't have a job. I like to speak English and Spanish, I love my boyfriend Evandro, I enjoy Anahi's songs, I love my pets and to read books :D Meu nome é Camila Rafaela Felippi, tenho 18 anos e vivo em Ascurra, SC, Brasil. Estudo Secretariado Executivo Bilíngue na FURB e não trabalho. Gosto de falar inglês e espanhol, amo meu namorado Evandro, adoro as músicas da Anahi, amo meus animais de estimação e ler livros :D